A Hermenêutica: a amplitude de seu objeto
(Estátua de IBN H'AZM, em Sevilha, Espanha)
Ressalvadas as fronteiras do que excede a capacidade intelectiva dos homens (refiro-me aos saberes inapreensíveis e os irraciocinados por superioridade; p.ex.: DEUS e os Mistérios da Fé, que, nesta vida, se conhecem, analógica e imperfeitamente: como se estivessem sob um véu), tudo o mais do universo é amplamente suscetível de um progressivo e direto conhecimento humano. É fácil ver que a amplidão do objeto desse conhecimento não corresponde ao somatório dos segmentos autônomos (é um tanto impróprio falar aí em autonomia) das várias Hermenêuticas instituídas. Mas pode pensar-se em uma amplíssima Hermenêutica geral. Não só muito extensa senão que também antiga.
Tomem, por ilustração, o excerto seqüente, extraído de O colar da pomba: tratado sobre o amor e os amantes (Tawq al-Hamama), do cordobês islâmico IBN H'AZM (994-1063 ou 1064). Vejam que se trata de uma investigação sobre sinais, os sinais do amor:
"O amor tem sinais que o homem arguto busca e que um observador inteligente pode desvelar.
O primeiro desses sinais é a insistência do olhar, porque os olhos são a grande porta da alma, que permite ver-lhe o interior, revelando-lhe a intimidade e acusando-lhe os segredos.
Verás, desse modo, que o amante, quando olha, não pisca; move seu olhar aonde se move o ente amado, aparta-se aonde ele se aparta, inclina-se aonde ele se inclina...".
O texto (até aí, uma sugestão inaugural de ciência e arte da interpretação de olhares), poderia ser um ponto de partida para uma heurística do amor. É interessante relacioná-lo com o stil nuovo de DANTE e com o RAMON LLUL de Blanquerna e do Llibre de Amic e Amat.
2 comentarios
Denise D'Amore -
roberto -