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CAVALEIRO E TROVADOR, TROVADOR E CAVALEIRO

CAVALEIRO E TROVADOR, TROVADOR E CAVALEIRO

Las Cantigas de Santa María, do Rei ALFONSO, EL SABIO

 

 

LUGONES destaca no texto da Vita Nuova de DANTE uma impressiva nota do heroísmo exigido do cavaleiro. É que no décimo-nono parágrafo da Vita, DANTE disse que os olhos são o princípio, e a boca, o fim (meta) do amor: "…deli occhi, li quale sono principio d’amore; …la bocca, laquale è fine d’amore". Todavia, observou LUGONES, nesse "máximo poema de amor (…) no hay en él un beso siquiera".

Esse heroísmo do cavaleiro que venera (quase cultua) a mulher amada, qual, no helenismo ateniense, se reverenciava a deusa Atena, e que, no cristianismo, chegará ao ápice do culto mariano, remata numa exaltação de ilimitada generosidade, a reabilitação da mulher, que passa a ocupar o papel impulsionador da Cavalaria, da cristianíssima Cavalaria. "A Cavalaria, diz LUGONES, foi uma das formas eminentes de (…) colaboração com Deus", porque, na concepção lugoniana, o heroísmo, o amor e a generosidade são expressões, de modo respectivo, das virtudes teologias da fé, da esperança e da caridade. Por isso, concertadas entre si, essas virtudes concedem à mulher do stil nuovo"es la mujer quien civiliza". um emérito papel gerador:

O cavaleiro não é só cruzado. É trovador: a Cavalaria, esse prodígio da Cristandade, é também realização poética. Trovar é encontrar. Encontrar o Amor Perfeito, o estado místico desse amor próprio de heróis. Não é por menos, dirá LUGONES, que, grandes homens do século XIII, "supremo en su esplendor", foram também grandes poetas: assim, Inocêncio III, Alfonso o Sábio, S.Francisco de Assis e S.Tomás de Aquino. O trovador é o cavaleiro do ideal civilizador da Cristandade. O cavaleiro é o trovador da beleza íntegra da mulher amada, a mulher, quase à espartana, senhora da Cortesia, que exige a pureza do heroísmo, a peleja pela justiça, em troca não mais do que um sorriso e uma saudação (la bocca è fine d'amore).

 

 

 

 

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